Nasceu dia 25 de janeiro de 1917, em Campo Grande, Mato Grosso, hoje capital de Mato Grosso do Sul. Filho de Gabriel Quadros e de Leonor da Silva Quadros. A migração da família, em 1924, teve uma parada na cidade de Lorena, Estado de São Paulo, onde Jânio estudou no Colégio Salesiano. Depois, em Curitiba, fez os primeiros estudos no Grupo Escolar Conselheiro Zacarias e parte do curso ginasial, iniciado em 1928, no Instituto Santa Maria. A partir de 1931, estudou no internato do Colégio Arquidiocesano em São Paulo. Essa última transferência custou um ano letivo a Jânio Quadros. Em 1934, concluiu o curso preparatório para a Faculdade de Direito de São Paulo, na qual ingressou em 1935, aos 18 anos. A partir de 1938, Jânio passou a dividir sua agenda entre os estudos universitários, o ensino de Português nos ginásios Dante Alighieri e Vera Cruz e os primeiros passos na política. Elegeu-se primeiro-secretário do Centro Acadêmico XI de Agosto, da Faculdade de Direito do Largo São Francisco, pelo Partido Acadêmico Conservador, além de publicar versos em vários jornais universitários. Casou-se, em 1939, com Eloá Valle e tiveram uma filha: Dirce Quadros. Em 1940, recebeu o grau de bacharel em Ciências Jurídicas pela Faculdade de Direito de São Paulo e começou a carreira de advogado criminalista, à qual se dedicou por sete anos. Mesmo depois de formar-se advogado, Jânio Quadros continuou a dar aulas de Português e Geografia em vários colégios de São Paulo, como fazia desde os tempos de universitário. Em 1947, os alunos de Jânio foram seus próprios “cabos eleitorais” quando se candidatou a uma cadeira na Câmara de Vereadores de São Paulo pelo Partido Democrata Cristão (PDC). Recebeu 1.707 votos e entrou para a política como um dos cinco menos votados dos 45 vereadores que São Paulo elegeu naquele ano. Eleito por um triz, Jânio entregou-se de corpo e alma ao trabalho de vereador. Logo no primeiro mandato, em 1948, apresentou nada menos do que 258 proposições; no segundo, mais do que dobrou esse número, apresentando 635; no terceiro, ainda superou a marca, chegando a 950 proposições; e, em 1951, já eleito deputado estadual, quando só lhe restavam quinze sessões na Câmara Municipal, apresentou 164 proposições. Total: 2.007 proposições em pouco mais de três anos de mandato. Foi por iniciativa do vereador Jânio Quadros que se regulamentou a profissão de engraxate em São Paulo, que se criou o Coral Municipal, que se proibiu a colagem de cartazes em logradouros públicos, que se tornou obrigatória a instalação de banquinhos para ascensoristas e o uso de luvas pelos funcionários da limpeza pública. Mas o trabalho de político não se restringia às sessões legislativas. Jânio era um dos vereadores mais presentes em manifestações públicas, na assinatura de manifestos, nas visitas a bairros. Ao fim de três anos intensos no Legislativo municipal de São Paulo, Jânio tornara-se um político em torno do qual se polarizavam opiniões e que, amado ou odiado, não havia mais como ignorar. Com requisitos para tentar vôos mais altos (em conseqüência de um trabalho competente realizado), conseguiu ser deputado estadual mais votado em 1950. Candidatou-se a prefeito de São Paulo, obtendo a eleição com 284.922 votos, passando a ser prefeito da maior cidade do país. O novo prefeito adotou, logo de início, uma série de medidas antipáticas, como a demissão de milhares de funcionários públicos e a punição, sem pestanejar, do atleta Adhemar Ferreira da Silva, então glorificado pela medalha olímpica que conquistara no salto triplo, por ter-se afastado sem autorização, do emprego municipal que tinha. Por outro lado, transformou em festa inesquecível os festejos do IV Centenário de São Paulo e implantou na cidade um memorial da data: o Parque do Ibirapuera. Acolhido pelo PSB e apoiado pelo PTN e por uma parcela do PTB, Jânio voltou a se lançar candidato. Agora a governador de São Paulo. Foi nessa campanha que se criou o símbolo da vassoura, (seus correligionários distribuíram 2 milhões delas para que as ostentassem na lapela os que concordavam com sua proposta de limpeza moral representada pela vassoura). Jânio foi eleito governador com 660.264 votos. Na sua primeira entrevista como governador, Jânio avisava: encontrando-se as finanças estaduais ‘em ruínas’, teria de adotar medidas que lembram tempos de guerra. A primeira delas foi a demissão de 11 mil servidores públicos. Em seguida, ainda em 1955, seu nome começou a ser especulado para a Presidência da República. A candidatura de Jânio Quadros foi lançada em 1959 para as eleições de 1960. Atuando como deputado federal, Jânio procurava manter-se ausente dos debates parlamentares e, logo depois de eleito, empreendeu uma longa viagem que alcançou Japão, Índia, Irã, Turquia, Itália, Iugoslávia, França, Inglaterra e Portugal. Pretendia evitar o desgaste das polêmicas parlamentares e manter acesa a esperança popular de que iria “fazer pelo Brasil o que fez por São Paulo”. Não deixava de se manter informado sobre as manobras e articulações dos outros candidatos. Jânio Quadros elegeu-se no dia 03 de outubro de 1960 com 48% dos votos (porcentagem nunca antes registrada por um candidato à Presidência). O candidato a vice-presidente, porém, não foi o da chapa de Jânio, e sim o da chapa de Lott, João Goulart, do PTB, que já havia sido vice-presidente de Juscelino Kubitschek, e concentrava as antipatias gerais dos militares. Coube a Jânio Quadros começar a pagar a conta deixada pelo seu antecessor, Juscelino. Inflação, déficit público e dívida externa. Em sua posse, em entrevista no programa “Voz do Brasil”, Jânio exclamava: ‘É terrível a situação financeira do Brasil’. Pontuou que o país tinha a obrigação de saldar, só nos seus cinco anos de mandato, 2 bilhões de dólares em dívidas externas; que o déficit orçamentário durante os ‘anos JK’ havia crescido de 28,8 bilhões de cruzeiros para 193,6 bilhões de cruzeiros; e concluiu apontando para o que considerava a crise moral em que o país se afundara: “Vejo, por toda a parte, escândalos de toda natureza. Vejo o favoritismo, o compadrio sugando a seiva da Nação e obstando o caminho aos mais capazes”. Para enfrentar os desequilíbrios orçamentários que herdara de JK, Jânio repetiu na administração federal o que já tinha feito nas suas experiências executivas municipal e estadual: demitiu funcionários públicos. Paralelamente, desvalorizou em 100% a moeda nacional em relação ao dólar, como forma de aumentar as exportações e, com isso, conseguir divisas para honrar a dívida externa. O aumento do preço dos produtos importados, decorrente da desvalorização cambial, gerou protestos que se somaram à insatisfação dos funcionários públicos demitidos. Em 1961, os Estados Unidos planejaram a derrubada de Fidel Castro, o então presidente norte-americano, John Kennedy, enviou diplomata como emissário especial para sondar o presidente brasileiro a respeito da possibilidade de envio de uma força expedicionária do Brasil a Cuba. Jânio Quadros começou por responder que essa decisão, se a tomasse, dependeria da aprovação do Congresso e, de resto, não deixou margem a dúvidas: Se tivesse a licença do Congresso, o que não acontece, não o faria, porque achava que Cuba tem o direito à sua experiência humana, à sua vivência. ‘Ela que sofra e padeça os seus pecados’. O interlocutor de Jânio nas negociações que acabaram por salvar a vida dos padres espanhóis que estavam presos em Cuba e condenados à morte, fora o ministro da Indústria e Comércio cubano, Ernesto Guevara (ícone máximo do comunismo latino-americano, conhecido como “Che”). Uma das versões de rompimento do governador do então Estado da Guanabara, Carlos Lacerda, com Jânio Quadros se deu por motivos mais prosaicos: no dia 18 de agosto (véspera da condecoração de “Che”), Lacerda teria procurado o presidente em busca de dinheiro para o jornal “Tribuna da Imprensa”, ouvindo de Jânio que, sendo o ministro da Fazenda Clemente Mariano, sogro do filho de Lacerda, este não teria o que temer. Antes que Lacerda saísse do Palácio da Alvorada, Jânio instruíra o ministro da Justiça, a hospedar o governador naquela noite em Brasília. Depois de visitar o ministro, Lacerda resolveu, porém, voltar ao Palácio da Alvorada. O ministro pensou que a intenção de Lacerda era apanhar suas malas e voltar para o Rio de Janeiro. Telefonou então para o palácio e solicitou que as malas do governador fossem deixadas à porta da residência presidencial. Chegando lá e deparando com as próprias malas, Lacerda sentiu-se vítima de descortesia, posto que contava com a hospedagem do presidente da República. Lacerda rompeu com Jânio e, no dia 24 de agosto, denunciou pela televisão que o ministro Pedroso Horta o procurara em nome do presidente em busca de apoio para o que Lacerda chamou de ‘golpe de gabinete’, cujo objetivo final seria o fortalecimento dos poderes de Jânio na Presidência. Mal soube da denúncia de Lacerda, já no dia 25 (não havia televisão em Brasília em 1961), Jânio decidiu-se imediatamente pela renúncia, como atesta o depoimento do então secretário do presidente, José Aparecido de Oliveira. Não era a primeira renúncia de Jânio Quadros. Quando governador de São Paulo renunciou ao mandato com a seguinte expressão: “Vou renunciar, pois não governo com uma assembléia de vagabundos”. Num documento intitulado “Razões da Renúncia”, de 15 de março de 1962, Jânio Quadros tentou pôr fim às especulações sobre as reais motivações de seu gesto. Já na condição de ex-presidente, investiu sem meias-palavras contra o Congresso ou, mais especificamente, contra a maioria oposicionista que enfrentou em seus sete meses de governo. A renúncia à Presidência não significou renúncia à política. Em 1962, Jânio Quadros candidatou-se ao governo de São Paulo, mas foi derrotado por seu adversário histórico Adhemar de Barros. Com os direitos políticos cassados pelo regime militar instaurado em 1964, Jânio passou um longo período de ostracismo. Durante esse tempo, prestou consultoria a empresas e descobriu os prazeres da pintura. Em 1979, recuperou os direitos políticos pela Lei de Anistia, tentou de novo ser eleito ao governo de São Paulo, mas foi derrotado. Em 1985, Jânio derrotou Fernando Henrique Cardoso nas eleições para a Prefeitura de São Paulo. Líder nas pesquisas de intenções de voto, Fernando Henrique chegou a posar para os fotógrafos, sentado à mesa do chefe do executivo municipal. Jânio cumpriu o mandato municipal até 1989, ano em que seu nome começou a ser cogitado para a sucessão do presidente José Sarney. Depois de expedir uma série dos seus famosos “bilhetinhos” (por meio dos quais dava ordens e anunciava decisões), negando veementemente a intenção de se candidatar, arranjou maneira mais enfática de se expressar: pendurou um par de chuteiras à porta do gabinete. Declarava-se, à sua maneira, aposentado e, portanto, fora da corrida presidencial. Depois de sofrer três derrames cerebrais, Jânio da Silva Quadros morreu em 16 de fevereiro de 1992, em São Paulo. Foi parte de seu discurso de posse em 1961: “Senhor Presidente, Srs. Ministros, muitos são os caminhos para a conquista do Poder. Viciosos, porém, se me afiguram todos aqueles que se apartam do voto do povo, deitado nas urnas soberanas. Percorri a estrada legítima. E, por isso, a Justiça Eleitoral do meu País, mais uma vez, proclama esta verdade simples: a democracia só se define, só se afirma e consolida através do sufrágio. É o direito à opção que faz os cidadãos responsáveis poderosos e permanentes. De advogado que postulava interesses individuais a administrador dos interesses coletivos se não foi longa a minha jornada, foi ela suficientemente áspera para ensinar-me que, a Justiça não é apenas um dos Poderes da República, mas, constitui, isto sim, essência desse mesmo regime. [...] Honra-me ser o primeiro Chefe de Estado a receber, nesta nova Capital, o seu diploma, e na pessoa do ínclito Ministro Presidente, rendo as minhas homenagens a todos os dignos juízes que ilustram a Justiça Eleitoral brasileira. [...] Dentro da lei e em estrita obediência à lei, serei livre para impor e exigir de todos o exato cumprimento do dever. Dessa liberdade, faço a minha escravidão”.
Jânio Quadros
Pesquisa: Hélvio Gomes Cordeiro (membro do Instituto Historiar).
Fonte: Presidentes do Brasil, Editora Rio.
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