quinta-feira, 19 de abril de 2012

A VERDADEIRA HISTÓRIA DO ÍNDIO GOITACÁ

O rei de Portugal D. João III doou as terras entre o Cabo de São Thomé e
Cabo Frio a Pero de Góes, que aqui desembarcou em 1539. A Capitania de São
Thomé tinha 30 léguas de costa, e, para colonizá-la, Pero convidou o amigo
Martim Garcia, alguns parentes e dez ou vinte colonos. Eles fundaram uma
povoação entre os rios Itabapoana e Paraíba do Sul, na região do atual
município de São João da Barra, batizando-a de Vila da Rainha, onde plantaram
as primeiras mudas de cana-de-açúcar do estado. Segundo o frei Vicente do
Salvador, que escreveu uma história do Brasil em 1627, a povoação esteve bem
nos dois primeiros anos. Depois, os índios se insurgiram e atacaram o povoado
durante cinco ou seis anos, intercalados por breves tréguas. O fidalgo não
suportou a sequência de ataques e partiu com sua gente para o Espírito Santo,
usando embarcações que lhe emprestou o negociante Martim Ferreira. Num dos
trechos do livro, o padre diz o seguinte: “No distrito desta terra dos
Aitacazes, que é toda baixa e alagadiça, estes gentios vivem mais à maneira de
homens marinhos do que terrestres; e assim nunca se poderão conquistar [...]
porque quando se tenta colocar as mãos neles, metem-se dentro das lagoas, onde
não há entradas a pé nem a cavalo; são grandes nadadores e a braços tomam
peixe, ainda que sejam tubarões, para o que levam um pau de mais ou menos um
palmo que lhes metem na boca direito, e como o tubarão fique com a boca aberta,
[...] com a outra mão lhe tiram as entranhas. [...] Os levam para a terra não
tanto para os comerem, mas para dos dentes fazerem as pontas de suas flechas,
que são peçonhentas e mortíferas, e para provarem força e ligeireza. Dizem que
as provam com os veados nas campinas, tomando-os a punhos, e ainda com os
tigres e onças e outros ferozes animais. “Estas e outras incríveis coisas se
contam deste gentio, creia-as quem quiser, porque nunca foi alguém ao seu poder
que retornasse com vida para contar”. Na ‘Historie Pittoresque des Voyages’,
também faz outro relato assustador sobre os Goitacás, que seriam canibais que
adoravam carne européia. Diz parte do texto: “Os Ouetacás não cessam de
guerrear seus vizinhos e não recebem estrangeiros entre eles para negociarem.
Quando eles não se julgam mais fortes, fogem com ligeireza comparável à dos
veados. Seu porte sujo e asqueiroso, seu olhar feroz e sua fisionomia brutal
fazem dele o povo mais odioso do Universo; ele se distingue da maior parte dos
indígenas do Brasil pela sua cabeleira a qual deixam cair pelas costas e só
cortam um pequeno círculo na fronte. Sua linguagem não parece com as dos mais
próximos vizinhos. Não se trata com eles senão de longe e sempre com a arma em
punho, para reprimir pelo medo um apetite desordenado que se excita neles à
vista da carne branca dos europeus. As permutas se fazem à distância de cem
passos, quero dizer, de uma a outra parte se leva a um lugar igualmente
distanciado as mercadorias. Amostram-nas de longe, sem pronunciar uma palavra e
cada um deixa ou toma o que lhe convém. Mais parece que a desconfiança é
recíproca e que, se os portugueses temem serem devorados, os Ouetacás não temem
menos a escravidão”. Como se vê, tudo o que norteava a atitude arredia dos
índios de Campos era a manutenção de sua soberania e liberdade. Aos
portugueses, qualquer ato que impedisse a colonização era tido como criminoso,
razão pela qual tão facilmente se disseminaram as histórias de canibalismo. Se
um índio fosse pego cortando uma cana ou um cacho de bananas, atos que para ele
eram o costume desde tempo imemoriais, seria logo castigado ou escravizado; sem
compreender a punição, os índios, logo que se soltavam, retornavam à tribo para
dar conta da violência que sofreram, despertando o compreensível clamor de
vingança entre os seus. Os Goitacás, então, atacavam os telhados dos colonos,
feitos de palha, com flechas incendiárias, para depois alvejarem seus
moradores.
RITUAIS DE GUERRA
A verdade sobre o apetite de carne humana: havia entre os índios da região,
Goitacás ou não, a tradição de comer a carne e beber o sangue do inimigo
derrotado, tanto para reincorporar à tribo o espírito de antepassados mortos
pelo inimigo, quanto para dar coragem aos novos guerreiros. O capturado era
engordado e tinha à disposição uma índia que lhe prestava os mais diversos
serviços até o dia da execução. Nesse dia, toda a tribo bebia e dançava,
inclusive o prisioneiro, que depois tinha o corpo atado. Era levado às tribos
vizinhas, onde podia contar como já havia amarrado seus inimigos e como sua
tribo viria vingar sua iminente morte. De volta à tribo Goitacá, ao prisioneiro
era dado um monte de pedras, e os guardas diziam: “que antes de sua morte lhe
seja concedido o direito de se vingar!” O prisioneiro podia atirar as pedras
nos dominadores, e várias pessoas saíam feridas neste ritual. Descarregada a
raiva, o executor, que até então se mantinha oculto, se aproximava armado da
‘tangapemma’, um tacape todo enfeitado com penas. O carrasco indagava ao
prisioneiro se era verdade que ele tinha matado e comido alguns companheiros, e
era a glória do quase morto lançar um último desafio: “Dá-me a liberdade e eu
te comerei a ti e aos teus!” Assumido o ‘crime’, o golpe com a pesada clava era
desferido neste momento, e a índia que cuidara do prisioneiro se aproximava
para chorar um pouco. Ela mesma, entretanto, se serviria daquela carne mais
tarde. Outras mulheres lavavam e cortavam o corpo, esfregando o sangue nas
crianças para nelas criar bravura. Os portugueses também se assustavam com a
grande quantidade de ossadas que viam pela tribo e que os Goitacás tinham
orgulho de mostrar. Mas tudo não passava de ritual de guerra, repetido por
gerações e gerações até o extermínio dos indígenas.
CAÇADORES HOSPITALEIROS
Os Goitacás sempre foram hospitaleiros com náufragos e fugitivos, além de convidarem
tribos amigas para suas festas. Veneravam um ser supremo, Tupã, ao qual se
dirigiam com voz de lamento nas ocasiões de trovoadas. Os colonizadores de tudo
fizeram para exterminar os antigos habitantes da planície, dando a eles até
roupas de doentes para que morressem em grande quantidade, muitas vezes a tribo
inteira. Para a história dominante, os colonizadores foram heróis que
desbravaram uma terra selvagem, enquanto os índios eram apenas animais que se
alimentavam de carne humana. Como vimos, a realidade não foi bem essa, e, se
alguém teve os direitos desrespeitados, foram os índios, expulsos do lugar que
sempre habitaram.




Pesquisa: Hélvio Gomes Cordeiro
Imagem: Acervo do Instituto Historiar.

quarta-feira, 18 de abril de 2012

Espaço Memórias da Baixada - Arquivo Público Municipal


De: Rafaela Machado (Arquivo Publico)
Postagem: Leandro Lima Cordeiro (Instituto Historiar).

terça-feira, 17 de abril de 2012

INSTITUTO HISTORIAR FAZ PALESTRA NO CIEP CLOVIS TAVARES

Participando de evento com o título “Campos, Doce Terra”, brilhantemente administrado pelo Ciep 461 Clovis Tavares, no Parque Nova Brasília, os palestrantes do Instituto Historiar e da Fundação Municipal Zumbi dos Palmares, Hélvio Cordeiro e Leandro Lima Cordeiro estiveram apresentando um trabalho relacionado com “Trajetória Histórica da Fundação da Vila de São Salvador de Campos e Cidade de Campos dos Goytacazes”, junto com as Diretoras Danielly Francisco Gomes e Claudia Valéria da Silva Santos, tendo o apoio das Professoras: Inês, Luanda, Juliana, Rita, Renata e Valéria; da Orientadora Educacional, Eliane Ribeiro de Castro; da Coordenadora Pedagógica, Mary Lúcia Pinto Fernandes; da Animadora Cultural, Neide da Hora; das Funcionárias, Lúcia e Lia Paula, tendo a participação em torno de 101 alunos do 6º ao 9º ano. O trabalho foi maravilhosamente desenvolvido, com uma participação cem por cento dos alunos, que aproveitaram bastante para abordar o assunto com perguntas inteligentes feitas aos palestrantes. Ficou em aberto uma escolha de nova data para apresentação de novos trabalhos. A Fundação Municipal Zumbi dos Palmares ofereceu dois exemplares dos livros “Carukango – O Príncipe dos Escravos” e “Escravidão e Abolição – A Luta Pela Igualdade”, de Hélvio Gomes Cordeiro, para serem colocados na Biblioteca da Escola, devidamente autografado pelo autor. Os componentes do Instituto Historiar de Campos dos Goytacazes e da Fundação Municipal Zumbi dos Palmares agradecem todo o cuidado, carinho, apoio e atenção com que foram recebidos, inclusive com um brinde oferecido pela direção da Escola Ciep Brizolão 461 Clovis Tavares.
















Texto: Hélvio Cordeiro
Fotos: Leandro Cordeiro

segunda-feira, 16 de abril de 2012

ORÍGEM DA USINA SANTO ANTÔNIO

Por volta de 1880 e 1881, apareceu o Engenho Central de Santo Antônio, que pertencia ao Barão de Carapebus (Dr. Joaquim Pinto Neto dos Reis) que morava no Solar do Beco (hoje Asilo do Carmo). Ocupava uma grande extensão de terra próximo do Bairro do Beco. Nesta época, pequenos engenhos eram chamados de “Usines”. Engenho era uma palavra importada do nordeste brasileiro. Com a introdução de propostas inovadoras por parte dos franceses, que passaram a oferecer equipamentos compactos e uma homogeneidade que o engenho central não possuía, facilitando dimensões e tamanhos para uma fábrica que exigia capital bem menor, surgiram oportunidades novas para a montagem de fábricas mais atualizadas comparando-se com os engenhos centrais modestos entre 1870/1880 e, com este incentivo dos franceses começou a surgir os donos de usinas, ou sejam os usineiros. Alguns engenhos a vapor podiam alterar seus maquinários e se transformar em “Usines” e não estavam dependentes do governo central e seus empréstimos. Com isso se formou duas correntes. As dos engenhos centrais e as das “Usines” que com o tempo passaram a ser chamadas de usinas. O governo central estabeleceu limites e quotas de empréstimos de acordo com as províncias e, por volta de 1889, não existindo mais escravos e a República, apesar de dar sequência aos processos de engenhos centrais, encerrava as vantagens. A grande diferença entre engenho central e a usina, estava em que esta possuía canaviais próprios enquanto a usina só podia trabalhar com canas de fornecedores. Como Usina Santo Antônio, entre 1900/1905 a produção foi de 480.000Kg de açúcar e 160.000 litros de aguardente. Por culpa de períodos de seca em 1917, a usina Santo Antônio teve uma produção de 12.000 sacos de açúcar de 60kg e substituía o aguardente por álcool, fabricando 60.000 litros. De 1929 até 1934 teve as seguintes safras de açúcar: 64.235 – 59.053 – 61.560 – 41.650 e 47.205 sacos de 60kg. No Anuário Açucareiro de 1935, do I.A.A (Instituto do Açúcar e do Álcool) constava como donos da Usina Santo Antônio a Companhia Industrial Agrícola Usina Santo Antônio, pertencente a um grupo de sócios, liderados pelo Sr. Tarcísio D’Almeida Miranda, nascido no Bairro do Beco. Superando várias crises e grandes dificuldades, a Usina Santo Antonio continuava mantendo sua produção, como em 1940/41, 67.338 e, em 1970/71 pulou para 186.656 sacos de 60kg. Com a morte do Senador Tarcísio Miranda em 1958, assume o seu lugar o filho Osvaldo Miranda. O Governo com o mercado internacional francamente favorável e o IAA com 1 bilhão de dólares em caixa, a eliminação de pequenas fábricas antieconômicas e a possibilidade de uma modernização do parque industrial, sacudiu o Brasil inteiro. Negócios de compra e venda de usinas se realizaram do dia para a noite. Sociedades anônimas aceitavam propostas mirabolantes. Parece que a dinheirama era fácil de conseguir. Para o Instituto do Açúcar e do Álcool, bastaria um projeto conduzido dentro das normas da “nova safra” de economistas recém chegados dos EEUU. De açúcar, de tradição, de história, não era preciso, nem conhecimento, quanto mais argumentos. O IAA estava topando qualquer negócio. Tal fato ficou patente quando após os primeiros dez projetos de fusão, o IAA achou que fundir duas usinas e daí fazer uma nova era a mesma coisa que permitir fazer uma usina nova de grande tamanho, desde que uma fosse colocada ao lado da outra, ou que estivesse bem próxima. Foi assim que iriam desaparecer em 1978 as usinas: Porto Real, Laranjeiras, Santo Antônio, Tanguá, Santa Luiza. Cambaíba que comprou Santo Antônio e Laranjeiras e construiu uma usina nova ao lado da antiga criando um parque açucareiro que em 1980 estaria em condições de produzir 25 milhões de sacos de açúcar. Com o desenvolvimento de muda produzida na Estação Experimental de Campos, a CB-45-3, que tinha muito mais resistência às pragas e grande potencial de sacarose, muda esta que se espalhou pelo Brasil inteiro. O Brasil moderno avançou como uma avalanche em Campos dos Goytacazes e foi uma realidade enquanto houve dinheiro sobrando e crises para administrar. Com o tempo veio o que podemos chamar “os tempos da verdade” e o que aconteceu a partir de anos atrás, virou “sonho de uma noite de verão”. O Brasil se intoxicava no açúcar e começava a se embriagar no álcool. Em Campos as usinas cooperadas não estavam produzindo nem para pagar os empréstimos em dólares. Começava o tempo de não se pagar as dívidas do Governo tais como o INPS, o IPI e o IR, impostos que sangravam as usinas. E isso começava a acontecer porque a região se atolava em baixíssimos rendimentos. A produção caía assustadoramente e não conseguia se erguer. Das 27 usinas anteriores, em 1976 restavam no Município de Campos dos Goytacazes apenas 12 usinas a saber: Cambaíba, Cupim, Novo Horizonte, Outeiro, Paraíso, Queimado, Santa Cruz, Santo Amaro, Santo Antônio, São João, São José e Sapucaia. No ano de 1976 a Usina Santo Antônio fez a sua última safra. O parque açucareiro campista disfarçava a sua crise. É natural que algumas unidades conseguiam se equilibrar melhor que outras. Mas tinha usineiro vendendo seu patrimônio e outros que andavam querendo sair do negócio. Só que era assunto de corredores e em circuito fechado para não espantar seus eventuais compradores. Foi assim que fechou Santo Antônio e outras.

FONTES DE PESQUISAS:
“O Ciclo do Açúcar em Campos” (1995 – Jorge Renato Pereira Pinto);
“Gente Que é Nome de Rua” (Volume I – 1985 – Waldir Pinto de Carvalho)
“Campos Depois do Centenário” (Volume III – 2000 – Waldir Pinto de Carvalho)
“Coluna Memórias” (Jornal Monitor Campista – Leandro Lima Cordeiro)
PESQUISA: Hélvio Gomes Cordeiro
Fotos: Acervo do Instituto Historiar.

domingo, 15 de abril de 2012

Pianista Juvenal Moura participará de workshop em Campos

No próximo dia 17 de abril estará em Campos o regente, pianista, acompanhador e cantor, Juvenal de Moura. Ele participará do workshop “A Voz como Instrumento Musical”, que tem como objetivo vivenciar o canto através da prática, compartilhando e aprimorando ideias inovadoras. Moura participou como solista e coralista do Coral Sinfônico do Estado de São Paulo e do Madrigal Vox, regidos pela maestrina Naomi Munakata. É formado em Fonoaudiologia pela FMU (Faculdade Metropolitana Unidas), além de pós-graduado.Organizado pela fonoaudióloga Érika Marins, o evento acontece no Auditório Nely Albernaz, no Centro Cultura Musical de Campos a partir das 18h. As inscrições custam R$50.
Texto: Patrícia Bueno
Foto: Divulgação.

domingo, 1 de abril de 2012

PALESTRAS REALIZADAS NA “ESEM” ESCOLA ESTRELINHA MÁGICA

No último dia 30 de março, os representantes do Instituto Historiar e da Fundação Municipal Zumbi dos Palmares, Hélvio Cordeiro e Leandro Lima Cordeiro, convidados pela “ESEM” Escola Estrelinha Mágica, no Parque Jóckey Club, tendo como Diretora Graciane G. Azevedo e Vice-diretora Luciene de Freitas, mobilizaram todas as turmas, professores e funcionários em geral, para um dia de palestras sobre a História de Campos dos Goytacazes, que neste mês comemorou 177 anos de elevação à categoria de Cidade. O trabalho foi apresentado para as turmas: Maternal II (manhã), Educ. Infantil I (manhã) e Educ. Infantil II (tarde) da Professora Elisangela; Maternal II (tarde) Professora Eliane; Educ. Infantil III (manhã) Professora Liliane; Educ. Infantil III (tarde) Professora Camila; 1º ano (manhã e tarde) Professora Francimara; 2º ano (manhã) Professora Juliana; 2º ano (tarde) Professora Cátila; 3º ano (manhã) Professora Geliane; 3º ano (tarde) Professora Márcia; 4º ano (manhã) Professora Karinna; 4º ano (tarde) Professora Alessandra; 5º ano (manhã) Professora Graciane; 6º ao 9º com o apoio de Kíssila, Professora de Matemática; Rosineia, Professora de Português; Verônica, Professora de Literatura; Lívia, Professora de Ciências; Alessandra, Professora de História; Márcia, Professora de Geografia; Carolina, Professora de Inglês e Adriana, Professora de Artes. Os representantes do Historiar ficaram maravilhados com a participação geral dos alunos e com a competência da direção da escola e do seu quadro de funcionários e professores, deixando uma promessa de breve regresso para outros trabalhos.






Texto: Hélvio Gomes Cordeiro


Fotos: Leandro Cordeiro