quarta-feira, 7 de julho de 2010

O FIM DA SUPREMACIA SÓCIO-FINANCEIRA DE CAMPOS

A produção de açúcar, aguardente e álcool respondia por uma renda bruta de 2,5 milhões de libras esterlinas. Campos dos Goytacazes era o maior produtor de açúcar do Brasil e o Município mantinha a 7ª posição brasileira em população global. Campos era seguramente a Capital Econômica e Cultural do Estado do Rio de Janeiro. Somente na zona urbana, existiam 3 Bancos Comerciais, 3 Hospitais, 12 Igrejas, 11 Sociedades Esportivas, 2 Teatros, 8 Jornais em atividade, mais de 700 estabelecimentos comerciais e mais de 70 Fábricas. As vias públicas totalizavam números que ultrapassavam os 73, onde existiam mais de 3.500 prédios (becos, travessas, ruas, avenidas e praças).
Comparando 1940 com 1920, percebe-se que a população cresceu a uma taxa anual de 1,35%, enquanto o Brasil, como um todo, no mesmo período, já estava crescendo à taxa de 2,0%a.a.. Evidenciava-se a queda de crescimento populacional, sintoma que passaria a acompanhar o Município, daí para frente. É evidente que alguns fatores novos começaram a produzir reflexos populacionais e, entre os principais, podemos citar os decorrentes da famosa “crise de 29”, que alcançou violentamente a indústria açucareira, seguido da revolução de 30. Algumas usinas já haviam falido e outras não resistiram ao impacto de 29. A lavoura de café sofreu violento impacto com a “crise de 29”. Muitas famílias se deslocaram da zona rural. Na cidade, a falta de energia elétrica e o precário abastecimento de água comprometiam o desenvolvimento e os investimentos.
Observa-se que começou a ter início um deslocamento de famílias mais abastadas, em direção ao Rio de Janeiro e Niterói. Algumas, em busca de trabalho e oportunidades mais favorecidas de investimentos, e outras, levadas pelas necessidades educacionais ou por simples mudança definitiva. O Governo Revolucionário, centralizando e beneficiando a capital, passou a beneficiar a região do Rio de Janeiro e Campos dos Goytacazes sofreu a atração da proximidade, comparado com as demais cidades populosas e que, privilegiadamente, eram capitais. Apesar de ainda ativa e dinâmica, Campos dos Goytacazes sofria também a concorrência comercial, pela preferência que passou a ser executada por comerciantes de outras praças, em negociar diretamente com a capital, procurando eliminar a dependência com Campos. Apesar de tudo, foi mantida sua 7ª posição, com população global. São Paulo iniciava a sua arrancada, para se tornar a 1ª cidade do Brasil.
Passamos a ser, em 1950, o 8º Município em população, e, em 1960, o 11º. Já não tínhamos expressão numérica e perdíamos as possibilidades de uma tomada de desenvolvimento, que nos recolocasse dentro da importância que havíamos tido no cenário nacional. Enquanto crescíamos a 1,54% a.a., o Brasil começava a caminhar para taxas de 3% a.a.. Iniciava-se a formação do grande “dormitório” de cidades satélites em torno do Rio de Janeiro. Milhares de campistas foram viver em Caxias, Nova Iguaçu, Nilópolis, que até então não existiam nos mapas geográficos nem tinham expressão sócio-econômica.
Começava na nossa região o êxodo rural, modificando profundamente o panorama de Campos dos Goytacazes e do Norte Fluminense. Após o término da 2ª Grande Guerra Mundial, o açúcar perdeu a importância econômica e o País submetido a uma inflação ruinosa, colocou o açúcar e o álcool no índex (numa página de dificuldades). O Governo Federal traduzia as insatisfações populares, impedindo que, em junho, o açúcar tivesse seus preços corrigidos adequadamente. A cidade de Campos dos Goytacazes, em especial, e sua zona rural, em particular, receberam impactos violentos, que cortaram qualquer possibilidade de desenvolvimento. A falta de energia elétrica tornou-se problema crônico e o abastecimento d’água desalentava os cidadãos. Próximo dos anos 50, já com o fim da Guerra Mundial, o Brasil absorveu dos ingleses a Leopoldina Railway. Foi o fim de uma companhia que já estava em fase de ruína. Sem meios de transportes adequados, as safras colhidas ficavam nas estações, esperando vagões de carga. O sistema de transporte de passageiros desceu a níveis jamais imaginados. Quando o campista acordou, verificou que estava ilhado, submetido a própria sorte. Não tínhamos alternativas. O jeito era esperar ou mudar. Os menos favorecidos começaram a retirada, para tentar sua sobrevivência, e os mais abonados ou esperaram melhores dias ou foram para o Rio de Janeiro e Niterói. Era uma continuação de situações anteriores, experimentadas na década de 40. A zona rural campista já não tinha supremacia numérica sobre a zona urbana que fossem dignas de nota, apesar de que o contingente ainda era maior.

Pesquisa: Hélvio Gomes Cordeiro.

Um comentário:

  1. Adorei ler esse texto. Ajuda a compreendermos a nossa região, com a evolução histórica contada de forma límpida e clara. Parabéns!

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