quinta-feira, 10 de junho de 2010

A PRIMEIRA VIAGEM CAMPOS/NITERÓI

Em 02 de setembro de 1925, por iniciativa do Sindicato dos Motoristas, partia da Rua 13 de Maio, em frente ao Trianon, uma caravana automobilística composta de 05 automóveis Ford e Dodge e 02 caminhões com enxadas, picaretas, serrotes, martelos, etc., com destino a capital do Estado, levando o propósito de solicitar do então Governador, Feliciano Sodré, a construção da Rodovia Campos/Niterói.
Compunham a caravana os motoristas Ernesto Matos Silva (Capitão-Chefe), João Teixeira, Antônio Amaral, Manoel Luiz, Antônio da Costa Maciel, Norival Pessanha, Otávio Chagas, Manoel Rodrigues, Cristalino Rocha, Antônio Siqueira Côrtes (Nico), Amadeu Martins, Oswaldo Rangel, Francisco Alves de Souza, Jaime Matos, José Norival, Basílio Lessa, João Rangel, Antônio Corrêa, Ordah Cruz Taippa, o agrimensor Baldomero Morgado Lisboa, o quintoanista de medicina Álvaro Grain Filho e o jornalista Júlio Nogueira, como enviado especial do Jornal “A Notícia” e correspondente telegráfico de “O Estado”, de Niterói.
O presidente do Sindicato era o ilustre e querido médico Dr. Antônio Rocha, o advogado Dr. Seniltz Rocha e o secretário, o tabelião Henilá Corrêa. Deu-se a partida às 02:00 horas da tarde (14:00 horas), entre palmas e aclamações, proferindo na ocasião o Dr. Seniltz Rocha eloqüente discurso desejando aos caravaneiros excelente viagem e êxito na louvável e corajosa empresa que partiam para realizar. Ao contrário do que se esperava, não puderam chegar à vizinha cidade de Macaé nesse mesmo dia porque a estiva do Sá, entre Ururaí e Guriri, era um verdadeiro rio, não dando passagem a nenhum veículo, fato que os obrigou a passar à noite dormindo dentro dos veículos, que dali só puderam sair na manhã do dia seguinte puxados por juntas de bois gentilmente cedidos pelo Coronel Euclides Campos, fazendeiro da localidade.
Mais adiante, isto é, no brejo do Quilombo, outro empecilho encontrado e apenas três carros puderam atravessá-lo, permanecendo os demais dentro do lamaçal até que surgisse a manhã do dia seguinte. Por isso só conseguiram chegar a Macaé no dia 05, merecendo especial registro a acolhida que tiveram em Quissamã por parte da família Ribeiro de Castro, a cuja frente se achava o pranteado Luiz Clóvis, (que acabou, tempos depois vindo a residir na cidade de Campos dos Goytacazes e exercendo o cargo de chefe da agência do Instituto de Aposentadoria e Pensões dos Industriários).
De Macaé rumaram para Barra de São João, em cujo percurso tiveram que abrir picadas até altas horas da noite, atraindo as luzes dos faróis enormes cobras surucucus que saltavam de dentro da mata sobre os veículos, sendo mortas à tiros pelo capitão chefe da caravana, Ernesto Matos, que era um exímio atirador de revólver. Por isso e ainda porque no areial de Imboassica os carros tiveram de ser empurrados um a um, a braço e no peito, só chegando à terra de Casimiro de Abreu no dia seguinte, indo primeiramente ao cemitério visitar-lhe o túmulo. A travessia de Rio das Ostras para Barra de São João foi feita de balsas, porque a ponte sobre o rio ameaçava cair.
Passaram a seguir por São Pedro da Aldeia, Cabo Frio, Saquarema, Araruama, Sampaio Corrêa, Manoel Ribeiro, Nilo Peçanha, etc., sendo que para atingir essas duas últimas localidades, tiveram de fazer estivas, para dar passagem aos veículos, tantos e tamanhos eram os pântanos existentes. Só no dia 09, à noite, é que chegaram a Niterói, sendo que na passagem por Maricá foram surpreendidos com um banquete oferecido pelo prefeito local, iniciativa dos conterrâneos ali residentes, como o Dr. Euclides Armando da Silva e Manoel Oliveira (Manequinho), como era conhecido e tratado na intimidade desde os tempos em que fora músico da Lira Guarani. Em São Gonçalo eram esperados por um cortejo formado por quase todos os automóveis de Niterói, tendo à frente a diretoria do Centro dos Chauffeurs, presidida pelo Sr. Francisco Antônio de Oliveira. Ainda em São Gonçalo uma fanfarra de clarins da Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro, por determinação do respectivo Comandante, General Cristiano Pinto colocou-se na vanguarda do cortejo, executando até chegarmos à Praça Martim Afonso os vibrantes trechos da marcha “Ainda”.
No dia seguinte, isto é, segunda-feira, 10 de setembro, foram recepcionados no Palácio do Ingá pelo Presidente do Estado Dr. Feliciano Sodré, e seu secretariado, sendo-lhes justificado o intuito da excursão, que era o de pleitear de seu Governo a construção da Rodovia Campos/Niterói. No dia 14, regressaram a Campos dos Goytacazes, no expresso da Leopoldina, sendo esperados na estação por enorme massa popular e a diretoria do Sindicato dos Motoristas, dando-lhes as boas-vindas o Dr. Seniltz Rocha, que proferiu eloqüente discurso de congratulações com os caravaneiros pelo êxito do corajoso “raid”.
Em 30 de outubro realizou-se no Cine Coliseu uma festa em homenagem aos “raidmens” promovida pelo Jornal “A Notícia”, sendo representada pela companhia de artistas das “Violetas” a comédia “Vida Alegre” e, para assistirem-na vieram a Campos comissões do Centro dos “Chauffeurs”, de Niterói, e da União Beneficente dos “Chauffeurs” do Rio de Janeiro, a primeira chefiada pelo Sr. Francisco Antônio Oliveira; e a segunda pelo Sr. João Ladeira, presidentes dessas associações, os quais entregaram a cada um dos “raidmens” uma medalha com a seguinte inscrição: “Ao Sindicato dos Motoristas de Campos dos Goytacazes a União Beneficente dos Chauffeurs e o Centro dos Chauffeurs de Niterói, como recordação do “raid” Campos/Niterói. No dia seguinte, 31 de outubro, foram os visitantes homenageados, ainda por iniciativa de “A Notícia”, com um passeio fluvial no Rio Paraíba do Sul, com visitas ao Jockey Clube de Campos e a Usina do Queimado e, logo após, um banquete na sede do Sindicato, fazendo o festejado orador Dr. Jaime Landim o discurso oficial. O Sindicato dos Motoristas de Campos dos Goytacazes ficava estabelecido no 1º andar do Edifício Trianon e, era composta dos Srs.: Seniltz Rocha, o advogado; Antônio Pereira Nunes Rocha, o presidente. Presentes também ao evento os Srs.: Thiers Cardoso, deputado; João Batista Tavares, delegado de Polícia; Antônio Pereira Amares, presidente da Associação Comercial e Industrial de Campos, e Abelardo Brito.

Texto: Hélvio Gomes Cordeiro

5 comentários:

  1. Descobrí aqui, esse tabelião (henilá Corrêa era meu avô materno, infelizmente faleceu muito cedo , vítima de tuberculose, eu não o conhecí. Meu nome de solteira é Dayse Corrêa Rocha. Fiquei feliz com essa reportagem

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  2. Meu avô paterno, Otávio Chagas, fez parte desse expedição. Muito bom encontrar o registro dessa conquista. Parabéns!

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  3. Quero parabenizar o texto maravilhoso do Hélvio. Apropriado para a façanha épica dos participantes da expedição. Dentre os quais encontrava-se meu avó, citado no texto, Otávio Chagas Monteiro, pai do meu pai. Meu pai tem a medalha citada no texto, prova do participação de meu avô. Ave aos antigos aventureiros!!!

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  4. Viu seu avô com o nome na história! Um desbravador, com seus companheiros, para provar ao governo da época ser possível a construção da estrada que eles diziam ser impossível
    . Se a cepa é boa

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  5. Viu seu avô com o nome na história! Ele, com seus companheiros, provaram ao governo da época ser possível a construção da estrada que eles diziam ser impossível.

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