Campista da Rua da Quitanda, atual Theotônio Ferreira de Araújo, onde nasceu em 25 de março de 1899, Gastão Machado dedicou a Campos a maior parte da sua obra teatral, como autor de mais de 30 revistas burlescas, comédias e dramas, encenados em Campos e no Rio de Janeiro entre 1923 e 1945, algumas em parceria com Sílvio Fontoura e Raymundo Magalhães Júnior, renomado escritor, que viveu em Campos na sua juventude.
Por isso, é natural que os campistas tenham retribuído esse amor e essa dedicação à cidade. Foi o único intelectual de Campos que, por sua obra teatral, ficou imortalizado no bronze, com um busto na Praça São Salvador, inaugurado em 1965, um ano após a sua morte em 26 de março de 1964, dia seguinte ao do seu 65º aniversário.
Os que assistiram às revistas de Gastão Machado, encenadas em teatros e pavilhões de Campos antiga, se lembram do realismo poético das cenas apresentadas retratando a cidade. Os tipos, embora com nomes supostos, eram logo identificados pelos espectadores por sua semelhança com figuras populares da cidade. Quem viu “Campos depois das dez”, por exemplo, ficou impressionado, com a fidelidade ao perfil da cidade conservadora, onde em horas tardias só os boêmios e as mulheres da vida saíam às ruas.
Gastão, escreveu ainda peças como: “Campos em Revista”, “O Macumbeiro do Turfe”, “A menina do açúcar”, “O careca não é de Campos”, “Petróleo no Turfe”, “Campos está progredindo”, “Uma festa no Capão” e “Campos do meu coração”.
No seu tempo, o do teatro romântico, a cidade tinha bons técnicos de espetáculos, cenógrafos e carpinteiros teatrais, e havia músicos e compositores como Benedito Bancretti, Sá Pereira, João Nunes Ribeiro, Álvaro de Andrade Reis e Miguel Miranda, que ajudaram Gastão a encenar seus espetáculos, compondo e tocando. Também dramas de conteúdo local como “A Escrava Isaura” e “A Rua das Cabeças”. Emocionaram toda a cidade, no tempo de Gastão Machado, que ao escrever sua primeira peça, a comédia “O Alisador”, tinha apenas 24 anos.
Pesquisador de história da cidade, o historiador Gastão Machado produziu muitos textos jornalísticos de conteúdo histórico.
Todavia, o único livro do gênero que editou foi “Os Crimes Célebres de Campos”, cuja primeira impressão foi feita na Gráfica Modelo (Rua dos Andradas nº 82) no ano de 1930, e assinava com o nome Gil de Mantua e prefaciado por Dr. Silvio Fontoura. As ilustrações também foram feitas pelo autor. Desse livro, uma segunda edição foi lançada por iniciativa do jornalista Latour Arueira e um grupo de amigos do autor, em 1965/66.
Em “Os Crimes Célebres de Campos”, Gastão Machado além de relatar alguns crimes célebres como o de Mota Coqueiro, D. Ana Pimenta e Um crime misterioso (Assassinato do Dr. Francisco José Alípio), entre outros. Retrata os costumes e a situação dos serviços públicos precários, como a falta de esgoto tratado e água encanada, iluminação com azeite de peixe e a gás, a travessia do Paraíba numa barca – pêndulo e os bondes puxados a burro. Veja abaixo uma poesia de Gastão Machado.
Ser Campista
Gastão Machado
Ser campista! Que alegria!
Eu juro que morreria
Se este não fosse o meu berço!
Permitam, pois, que me expanda.
Sou da Rua da Quitanda,
Por trás da Igreja do Terço.
Quanta saudade da infância,
A qual nem mesmo a distância
Dos anos, meu Deus, apaga!
A “dança das jardineiras”,
A investida às goiabeiras,
O Colégio de “Seu Fraga”...
As rifas de São João
Os folguedos no valão,
O batoque na “bacia”...
E a vida se desabrocha,
“Com os ‘pegas’ de Zé Rocha”
Que era da cavalaria...
Depois, o velho Liceu.
Na era do seu apogeu,
(Parai, ó tempo, a ampulheta!)
A nossa turma, uns quarenta,
Ia toda pra Pimenta
Nos bons dias de “gazeta”...
Nem tudo no ouvido cai...
Da mente não se me esvai
-Eu era bem garotinho
Quando Lacerda Sobrinho
Se batia pelo povo!
Fui crescendo, fui crescendo.
E cada vez mais querendo
A Campos dos Goytacás,
Planície de intensos brilhos,
Onde nasceram meus filhos
Onde morreram meus pais!
Como eu me orgulhava de ti,
Terra Augusta de Peri,
Senhora encantos mil!
Campos de Benta Pereira,
Cidade mais brasileira
De todo o nosso Brasil!
Postagem: Leandro Lima Cordeiro
Foto: Acervo do Instituto Historiar.
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