Aprendeu a ler e escrever as primeiras letras em casa, com a família. A seguir, no momento próprio ingressou no Liceu de Humanidades de Campos para fazer o curso ginasial. Bom aluno de um estabelecimento modelar, ali mesmo planejou sua carreira futura – a de médico.
Com vontade de quem luta pata vencer, passou para a Faculdade Nacional de Medicina do Rio de Janeiro, para só deixá-la com a posse do seu diploma. Como seria natural, depois do curso superior e das experiências adquiridas no aprimoramento da profissão, estabeleceu-se em sua cidade natal, terra que tanto amou e prestou relevantes serviços. Casou-se com Raquel Bastos Tavares e dessa união nasceram os filhos Amir e Adir.
O Dr. Sylvio Bastos Tavares, graças à sua preferência durante os estudos de medicina, além de um bom clínico foi reconhecido no decorrer do seu trabalho em Campos, como um excelente ginecologista. Era um homem de elevada estatura, atlético e imponente. Era, enfim, uma figura que pela sua postura inspirava respeito e admiração. Os seus amigos o levaram para a política. Ingressou nessa carreira, inicialmente como membro do então existente PRP (Partido Radical Popular), agremiação cuja atividade se encerrou no final da década de vinte. Após a revolução vitoriosa de Getúlio Vargas em 1930, e no momento em que foram aos poucos se restabelecendo as atividades representativas da sociedade, foi o Dr. Sylvio, convidado pelo então interventor Ernani do Amaral Peixoto a fazer parte do PSD (Partido Social Democrático), órgão que no Parlamento fazia a defesa do Governo.
Levando com firmeza a carreira política, já em 1931, era feito Prefeito de Campos dos Goytacazes. Os observadores sérios da vida administrativa no Município, sempre o apontaram como um bom governante. Quando se encaminhou para a Prefeitura de Campos, foi para substituir o operosíssimo e inteligente Dr. Oswaldo Cardoso de Mello, que havia revelado ser um dirigente voltado para o urbanismo. Substituindo o seu colega de profissão, Sylvio Bastos Tavares, deu prosseguimento com muita capacidade ao programa administrativo do seu antecessor.
Ao deixar a Prefeitura pela primeira vez e sem abandonar a carreira de médico, dividindo entre seu consultório e os hospitais da cidade, o Dr. Sylvio se manteve na política. Em diferentes eleições saiu-se vitorioso, ora para Vereador, ora para Deputado Estadual ou Deputado Federal. Isto prova o seu valor pessoal. Tendo alcançado o poder público por vontade do governo revolucionário, não teve dificuldade em angariar o necessário apoio popular manifestado nas urnas. Convém lembrar que o respeitável médico campista, por mais de uma vez foi Chefe Executivo do Município. Durante dois anos voltou a comandar a Prefeitura, isto, entre os anos de 1936 e 1937.
Sempre merecendo9 o prestígio da cúpula partidária, após servir à Municipalidade em duas gestões, foi feito Presidente do Instituto do Açúcar e do Álcool, onde por circunstâncias lamentáveis encerrou a sua carreira de homem público. O Dr. Sylvio Bastos Tavares, nos últimos tempos, estava residindo no Rio de Janeiro. Aqui em Campos havia deixado amigos dos quais nunca se afastou. No final de fevereiro de 1960, veio a Campos levado pelo sentimento cristão. No dia 25 desse mês aqui estava para cumprir o doloroso dever de assistir aos funerais do seu amigo Artur Nogueira que havia falecido na véspera, às 09 horas da manhã.
Cumprido o fraternal dever, preparou-se para o regresso à Velha Capital da República. Aí, veio a notícia de que o avião da carreira, partindo de Vitória, que o transportaria, estava com atraso. Como seria natural, o Dr. Sylvio ficou aborrecido. Foi visto entre amigos no centro da Cidade, reclamando, protestando. Entretanto, depois de uma boa espera, chegou o aparelho ao nosso Aeroporto. O Presidente do IAA, finalmente embarcou e a viagem prosseguiu de forma normal. Nesse dia, o Rio de Janeiro estava em ruidosa festa. Estava recebendo a honrosa visita do Presidente Eisenhower, dos Estados Unidos. Era uma visita, cuja comitiva, constituída, inclusive, de banda de música, ocupava mais do que o avião presidencial. O aparelho, no qual viajava o Dr. Sylvio Bastos Tavares e outros campistas, está se aproximando do Rio de Janeiro. São 12 horas e 50 minutos. Ao mesmo tempo, um avião da comitiva norte-americana, procedente de Buenos Aires, de onde viera Eisenhower, transportando 40 pessoas, entre as quais 20 integrantes da Banda Musical da Marinha Americana, também se aproxima da “Cidade Maravilhosa”.
O avião da Real que havia decolado de Campos, conduzia 25 pessoas à bordo, vai aterrissar no Aeroporto Santos Dumont. O quadrimotor americano DC-6 da United States Navy, da mesma forma vai descer no Santos Dumont. De repente, o choque no ar, a tragédia de características impressionantes. Já na manhã do dia seguinte todos os jornais do Rio de Janeiro, davam conta do desastre. A manchete do Jornal Monitor Campista era a que se segue: “TERMINA EM LUTO UMA GRANDE FESTA”.
“O avião da Real chocou-se no ar com um aparelho da Marinha Americana: 66 mortos”. O choque dos dois aparelhos ocorreu na altura da Urca, entre os Fortes de São João e Laje. Os aviões, por motivo que nunca foram explicados, voavam no mesmo nível. Com o bruto impacto, o avião Americano partiu-se ao meio e o nacional foi espatifar-se de encontro à montanha de pedra. Testemunhas oculares do acidente disseram que os pilotos pareceram se aperceber do perigo alguns instantes antes da fatalidade. Inexplicavelmente – afirmaram tais pessoas – ambos se desviaram para o mesmo lado, quando ocorreu o desastre.
A parte dianteira do avião Americano caiu de bico no mar, a parte trazeira, rodopiando, projetou-se também na Baía de Guanabara. No dizer de algumas pessoas, “os corpos iam caindo no mar como se fossem confetes”. O conhecido árbitro Mário Vianna, que em seu lazer, no momento pescava no local, afirmou que os aparelhos teriam penetrado numa nuvem escura sobre o Pão de Açúcar e, aí se deu a tragédia.
Conduzia o avião brasileiro o Comandante Francisco Vieira de Deus, tendo como auxiliar o co-piloto, Paulo Augusto de Camargo Neto. Os primeiros socorros foram prestados pelo médico Dr. Samuel Amaral com o auxílio de 20 lanchas do Iate Clube do Rio de Janeiro. Haviam embarcado em Campos, o Dr. Sylvio Bastos Tavares, o Dr. Ricardo Collares Quitete de Moraes, Salvador Edson Perissé Duarte, João Murilo Cleofas de Oliveira, e mais: Alzira G. Matos, Bento Matos, Antonio Samaya, Joaquim Matias e Gauthier Figueiredo.
Deixaram de viajar, em razão do atraso do avião ou obra de forças estranhas: Maria Evangelina Brito, em cujo lugar viajou o Sr. Gauthier; o comerciante João Maciel, que cedeu a sua passagem ao Dr. Ricardo Quitete (embora afirme que fora apenas incumbido de adquiri-la); Olavo Guaraná, que ia para a missa do seu primo Dr. Newton Guaraná. Nesse desastre aéreo em que desapareceram cerca de 66 pessoas, houve apenas 05 sobreviventes do avião americano, 03 dos quais atendidos pelo Hospital Miguel Couto. Entre tantas pessoas conhecidas, desapareceram Ricardo Quitete, Salvador Perissé, João Murilo, filho do ex-ministro João Cleofas e o ilustre médico, político e Presidente do Instituto do Açúcar e do Álcool, Dr. Sylvio Bastos Tavares.
Tentando provar a extensão da dor sentida em Campos dos Goytacazes, tomamos a bliberdade de transcrever aqui, “O Comentário do Dia”, escrito pelo brilhante jornalista Oswaldo Lima: “Tem sido muito pesado o tributo de Campos ao desenvolvimento da aviação comercial no país...
... Temos essa nova ocorrência, a qual constitui o maior impacto que já poderiam experimentar os campistas de certas gerações...
... Que coisa lastimável! O Sr. Sylvio Bastos Tavares foi em parte uma vítima do seu apego a Campos. Mudando-se com a família para o Rio de Janeiro, muitos anos atrás, poderiam ter feito como tantos outros, que se desligaram sobre vários aspectos da terra, mantendo embora os vínculos sentimentais.
Profissionalmente, tinha condições para vencer no Rio de Janeiro. Mas não. Continuou sendo um homem de duas cidades, visitando Campos pelo menos uma vez por mês, e insistindo em ter aqui, a sua base política. Tinha em Campos dos Goytacazes a sua clínica, e não houve amargura ou decepção que o fizesse afastar-se daqui. Era respeitável e quase comovente nessa atitude. E como desaparece! Retornando de um enterro depois de prestar à memória de um amigo a sua desinteressada homenagem...”
Lamentavelmente, e apesar das buscas incansáveis nas águas da Baía de Guanabara, o corpo do Dr. Sylvio Bastos Tavares jamais foi encontrado. Restou a lembrança agradável de um homem que pelos seus grandes méritos, soube ser Vereador, Prefeito, Deputado Estadual e Deputado Federal, Presidente do Instituto do Açúcar e do Álcool e Presidente da Cia. Usinas Nacionais.
Hoje em Campos dos Goytacazes, além de um Grupo Escolar, uma Rua tem seu nome. São justas essas homenagens.
Texto: Hélvio Gomes Cordeiro
Postagem: Leandro Lima Cordeiro